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Pesquisador Renato Santana diz que vigilância sobre as mutações genéticas deve ser constante
A nova variante do Sars-CoV-2 que saiu de controle no Reino Unido é um alerta para o mundo. As vacinas são esperança concreta, mas o coronavírus é um dos maiores inimigos que a Humanidade já enfrentou, e o preço de baixar a guarda e subestimá-lo é doença e morte. O surgimento da linhagem evidencia que, sem ciência, não haverá vitória contra a pandemia, afirma Renato Santana, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Santana estuda características genéticas do coronavírus em circulação no Brasil. Aqui, diz ele, uma outra linhagem se tornou dominante em questão de poucos meses, mais um sinal de que, apesar de as mutações não indicarem uma ameaça às vacinas, a vigilância genética do vírus é parte crucial da estratégia contra a pandemia.
O coronavírus está mais contagioso?
Há indícios, mas não há comprovação de que mutações no vírus poderiam ter aumentado a capacidade de transmissão. Os vírus mudam sempre, e são essas mudanças que levam ao surgimento de novas cepas ou variantes, que podem ou não ser mais perigosas. Mais de quatro mil mutações foram descritas no Sars-CoV-2 desde o início da pandemia. Quando uma delas dá algum tipo de vantagem ao vírus, ela acaba por se tornar dominante. A mutação N501Y, uma das encontradas na linhagem do Reino Unido, chama a atenção porque ocorreu numa região importante da proteína que o Sars-CoV-2 usa para invadir as células.
Qual a linhagem dominante?
No Brasil é a que tem a mutação D614G. Até meados de maio, ela representava apenas cerca de 20% das amostras positivas no Brasil. Agora é dominante. Quase 100% das amostras que testamos são dela.
Essa mutação tornou o coronavírus mais transmissível?
Até agora não se provou que ela é mais transmissível, e sim que tem condições para isso. Experiências com animais demonstraram que ela faz o coronavírus se concentrar no trato respiratório superior, isto é, nas narinas e na orofaringe, e isso facilita a transmissão. Também aumenta a adaptabilidade, a eficiência da replicação do vírus. Então, pode até ser que esteja associada à transmissibilidade. Sobre a N501Y ainda não se sabe.
Tem sido observada uma carga viral (concentração de vírus) elevada nos casos recentes no Brasil. Por quê?
Uma hipótese é que a mutação D614 eleva a carga viral nas vias áreas superiores. Aumentou muito o número de jovens positivos de até 35 anos com carga viral alta.
E quanto à gravidade da Covid-19?
Não há sinais de que essas mutações aumentem o risco de agravamento.
Qual o impacto das mutações para o sucesso da vacinação?
As mutações do coronavírus têm que ser acompanhadas de perto, claro. Se o vírus mudar significativamente, teremos que alterar as vacinas, a exemplo do que ocorre com a gripe. É provável que seja preciso renovar as doses das vacinas, não apenas porque o vírus pode mudar, e sim porque não sabemos por quanto tempo um imunizante vai nos proteger. Nas pessoas que tiveram Covid-19, os anticorpos parecem durar no máximo seis meses.
Tanto a mutação D614G quanto a identificada no Reino Unido — chamada N501Y — ocorreram na proteína alvo de várias vacinas, a proteína espícula, ou S, usada pelo coronavírus para invadir as células humanas. Qual o impacto que isso pode ter na eficácia dos imunizantes?
Por ora, não há indícios que impacte na eficácia das vacinas. Elas aconteceram em pequenos pedaços da proteína, que ainda poderia ser reconhecida por anticorpos. Mas, claro, deve ser investigado. A vigilância deve ser constante.
Como saberemos se uma mutação afetou a capacidade de proteção de uma vacina?
É um estudo complexo. É necessário sequenciar os vírus extraídos dos voluntários vacinados que tiveram Covid-19 para ver se apresentam essas mutações. Além disso, é preciso analisar as características dessas pessoas para saber se adoeceram em função de mudanças no vírus ou devido a peculiaridades delas próprias.
Que tipo de peculiaridades?
Uma série de estudos indica que a chamada primeira linha de defesa do organismo é fundamental para evitar o agravamento da infecção pelo Sars-CoV-2. Essa linha se chama resposta imune inata e tem um papel mais importante no combate ao coronavírus do que o desempenhado contra outros vírus. Um estudo recente publicado na Nature identificou mutações na resposta imune inata de pessoas com Covid-19 grave. Não quer dizer que elas sejam o único fator de agravamento, mas há um componente genético, que pode estar ligado ao fato de haver um maior número de homens entre os casos graves.
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