De cada três policiais penais de Mato Grosso, apenas um é do sexo feminino. Apesar de serem minoria, elas estão no comando de nove unidades penitenciárias no Estado e precisam lidar com os desafios proporcionados pela carreira. Ameaças, assédio, carga horária exaustiva e até rebeliões estão entre os problemas enfrentados na profissão que já foi classificada como "coisa de homem".
Jacira Maria é a atual presidente, em substituição, do Sindicato dos Servidores Penitenciários de Mato Grosso (Sindspen). Ela entrou na carreira há 17 anos e enfrentou em seu primeiro ano como servidora uma grande greve dos agentes prisionais da epoca.
Formada em Educação Física, ela fez o concurso ppara aguardar o outro da Educação, em sua área finalística, mas se deparou com uma profissão que tem o poder de mudar a vida das pessoas que precisam de ressocialização. "Eu observei que ali poderia ajudar muito as pessoas que haviam quebrado as regras sociais. Percebi que aquelas pessoas precisavam de bons exemplos e de um trabalho qualificado, um desafio que eu me envolvi e apaixonei", conta Jacira.
Apesar de se realizar com a escolha da profissão, o preconceito começou dentro de casa, com as críticas dos familiares. "A primeira pessoa que me falou que não era lugar para mim foi a minha mãe. Depois vieram as minhas irmãs falar para eu desistir. Entendo a preocupação delas, por causa das notícias que a gente via há época, mas vi que no sistema poderia fazer diferença e dar voz aos agentes prisionais, que até então eram invisíveis".
Em seus primeiros anos como policial penal esteve dentro de motim e rebelião na penitenciária Ana Maria do Couto, que deixaram lembranças que até hoje ela não esquece. "Me lembro de uma reeducanda, que estava sob efeito de entorpecentes e subia pelas grades e depois escorregava com as mãos sangrando. Do cheiro dos colchões queimados. Das placas de aço que foram puxadas pela metade durante a rebelião. Mas em vez de desistir, isso me deu mais força para lutar por melhores condições de trabalho para a categoria, por entender que poderíamos fazer melhor", afirma Jacira.
Quem também se realiza na profissão apesar dos desafios constantes, é a policial penal Leyd Laura Potencio Luz, que há 7 anos ingressou na carreira. Sua história com a Polícia Penal começou por acaso, quando sua tia a convenceu de prestar o concurso. Até então ela trabalhava como técnica de enfermagem, mas viu no funcionalismo público um novo desafio. "Eu costumo falar que não fui eu que escolhi a carreira, mas ela que me escolheu. Eu vinha da área da saúde e uma tia minha fez a minha inscrição também. Por uma ironia do destino, eu passei e ela não. Acabei gostando, vi ali um desafio para enfrentar. Hoje gosto do que faço e sou muito realizada", explica Leyd.
Mas o desafio inicial da profissão foi além das atividades de rotina de uma policial penal. Ela precisou se impor para ganhar respeito e espaço em ambientes majoritariamente masculinos. "Em certas unidades deixam as mulheres de fora de certas atividades apenas por ser mulher. Ouço muitos relatos de mulheres que se sentem desvalorizadas na carreira por causa dos colegas. Eu decidi não me deixar abalar e me impor. Se é para pegar arma de cano longo eu pego, se é para dirigir viatura, eu dirijo. Não abaixo a cabeça", conta a policial penal.
Para ela, o espaço conquistado é fruto do trabalho e também de se impor para garantir respeito. "Gostam de falar que a gente é igual, mas nem sempre é assim. Se a gente não se impor, não consegue ter voz. Se falam alto comigo, eu falo alto também. Não deixo que me oprimam, que me calem".
Duas grandes histórias que representam centenas de outras mulheres. A todas elas, nossa gratidão e parabéns pelo seu dia.
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