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QUEM ESCREVEU?

IA ajuda a desvendar o mistério sobre quem escreveu a Bíblia

Redação

 

Pixabay

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Um grupo internacional de pesquisadores desenvolveu um método que utiliza inteligência artificial (IA) e estimativas estatísticas para identificar quais grupos autorais escreveram partes da Bíblia.

 

Publicado neste mês na revista acadêmica Plos One , o estudo combina tecnologia de ponta com análise linguística para diferenciar os  estilos autorais de diversos textos bíblicos, alguns dos quais foram escritos há aproximadamente 2.800 anos e evoluíram ao longo dos séculos.

 

Thomas Römer, especialista bíblico do Collège de France e coautor do estudo, esclarece que a Bíblia não possui autores no sentido moderno. "As versões originais dos pergaminhos foram continuamente reelaboradas e reescritas por redatores que acrescentavam, alteravam e, às vezes, também omitiam partes dos textos anteriores."

 

Na prática, a IA foi usada para identificar padrões linguísticos e diferenciar autores de capítulos bíblicos. Por exemplo, a análise indica que trechos sobre Abraão no livro de Gênesis não dependem das principais correntes autorais, reforçando a hipótese de que foram redigidos posteriormente.

Origens do projeto

 

Em 2010, a matemática Shira Faigenbaum-Golovin e o arqueólogo Israel Finkelstein se uniram para analisar inscrições em fragmentos antigos de cerâmica.

 

Aplicando técnicas estatísticas para comparar estilos de escrita, consegue diferenciar autores de textos datados de 600 aC. O modelo usado em inscrições feitas em peças de barro foi levado para a análise de textos bíblicos.

 

"Chegamos à conclusão de que os achados nessas inscrições podem oferecer pistas valiosas para datar textos do Antigo Testamento", explica Faigenbaum-Golovin, segundo comunicado da Universidade de Duke.

 

A equipe, liderada por Faigenbaum-Golovin, reuniu profissionais de diversas áreas: arqueólogos, especialistas em Bíblia, físicos, matemáticos e cientistas da computação.

 

Palavras diferenciam tradições autorais

 

Os pesquisadores focaram nos novos livros da Bíblia hebraica, que também compõem o Antigo Testamento. 50 capítulos foram classificados em três tradições autorais já conhecidas pela crítica bíblica: os textos do Deuteronômio, a História Deuteronomista (de Josué a Reis) e os Escritos Sacerdotais (presentes em Gênesis, Êxodo e Levítico).

 

"Descobrimos que cada grupo de autores tem um estilo diferente; surpreendentemente, até no que diz respeito a palavras simples e comuns como 'não', 'que' ou 'rei'. Nosso método identifica com precisão essas diferenças", afirma Römer.

 

A equipe adaptou um algoritmo desenvolvido no campo da estatística que analisa a distribuição das palavras e criou um dicionário de termos para cada escola de autoria, com aproximadamente 1.447 termos únicos.

 

Segundo o jornal israelense The Times of Israel, os pesquisadores descobriram que palavras como Elohim (um dos nomes para Deus) e lo (que significa "não" em hebraico) caracterizaram os textos do Deuteronômio. A História Deuteronomista inclui essas mesmas palavras com frequência, além de melech (rei) e asher (que). Já zahav (ouro) é característica do corpus dos Escritos Sacerdotais.

 

“Pegamos uma palavra específica e verificamos algumas vezes ela aparece em um texto”, explicou Faigenbaum-Golovin. "Poderíamos quantificar a distribuição da palavra no texto um e no texto dois e verificar se eram iguais."

 

Descobertas inesperadas

 

“Em 84% dos casos, a atribuição automática coincidiu com as estudos dos estudos bíblicos”, afirmaram os pesquisadores ao Times of Israel. O sistema confirmou que o Deuteronômio e os livros históricos são mais semelhantes entre si do que aos textos sacerdotais, algo que já é consenso entre os especialistas da Bíblia.

 

Mas a análise também destacou diferenças em livros que eram considerados da mesma autoria. Diferente do que se lembrou, embora as duas seções da Narrativa da Arca tratem do mesmo tema e contenham nos livros de Samuel, eles foram escritos por autores diferentes. Os textos narram a jornada da Arca da Aliança.

 

"A maioria dos estudiosos pensa que a narrativa de Samuel 1 e a de Samuel 2 pertencem à mesma história, enquanto uma minoria considera que a primeira é uma história originalmente independente. Nossa análise declarou que a opinião da minoria é correta", explicam os pesquisadores.

 

Essa ferramenta também foi aplicada a textos cuja origem é mais debatida, como o Livro de Ester, o único que não menciona Deus explicitamente, ou os trechos sobre Abraão no livro de Gênesis. Em ambos os casos, o algoritmo concluiu que não se encaixam em nenhum dos três estilos principais, reforçando a tese de que foram produzidos por autores externos às correntes dominantes da Bíblia hebraica.

 

 

Desafios metodológicos

 

Para chegar às conclusões, a equipe apresentou obstáculos significativos. Como a Bíblia foi editada várias vezes ao longo dos séculos, os pesquisadores precisaram localizar segmentos que mantivessem sua redação original.

 

“Passamos muito tempo nos convencendo de que os resultados que obtínhamos não eram simplesmente lixo”, disse Faigenbaum-Golovin, segundo o comunicado. "Precisávamos estar absolutamente certos da estatística."

 

Para superar o problema da escassez de dados, em vez de usar o aprendizado de máquina tradicional (aprendizado de máquina), que requer grandes volumes de informação, os pesquisadores empregaram um método mais direto comparando padrões de frases e frequências de palavras.

Novas aplicações para textos antigos

 

As implicações vão além da Bíblia. "O estudo apresenta um novo paradigma para análise de textos antigos", resumiu Finkelstein.

 

Faigenbaum-Golovin aponta que a mesma técnica poderia ser aplicada a outros documentos históricos. "Se você busca fragmentos de documentos para descobrir se foram escritos de Abraham Lincoln, por exemplo, esse método pode ajudar a determinar se são reais ou uma falsificação."

 

Os pesquisadores planejam agora aplicar seu modelo às outras partes da Bíblia e aos textos como os Manuscritos do Mar Morto. “Há muitas questões em aberto relacionadas aos livros proféticos, assim como às últimas revisões do Pentateuco”, afirmou Römer. "Esse método será de grande ajuda para obter resultados mais objetivos."

 

*Via DW gq (dw, ots)

 

 

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