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opinião Segunda-feira, 24 de Fevereiro de 2025, 10:04 - A | A

Segunda-feira, 24 de Fevereiro de 2025, 10h:04 - A | A

ARTIGO

TECNOFEUDALISMO: NOVO MÉTODO DE DOMINAÇÃO?

*VIVALDO LOPES

 

 

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Uma obra que será lançada no Brasil em abril pelo selo Crítica tornou-se o centro de debates acadêmicos entre economistas e historiadores do mundo inteiro. Trata-se do livro “Tecnofeudalismo”, de autoria do economista grego Yanis Varoufakis , ex-ministro da economia da Grécia.

 

Segundo a visão (exagerada) do autor, o capitalismo morreu e foi substituído por uma nova forma de dominação ao qual ele denominou de tecnofeudalismo. A denominação é tomada emprestada do pensador francês Cedrid Durand, que já havia utilizado e popularizado o termo.

 

Segundo essa teoria,o capitalismo e o sistema de livre mercado, predominantes mundialmente, se exauriram e foram sucedidos por outro que tem como epicentro o monopólio das big techs e sua inusitada e fantástica capacidade de manipular informações, atividades sociais, financeiras, econômicas e decisões políticas.

 

Para os adeptos do conceito teórico, o poder adquirido pelas gigantes digitais estão cada vez mais parecidas com o feudalismo vigorante na Idade Média no continente europeu.Vem daí a nomenclatura tecnofeudalismo.

 

As plataformas de comércio e serviços digitais operam como os antigos senhores feudais. Seus usuários digitais seriam os modernos “servos” e os detentores do capital tradicional (dinheiro, maquinários, redes telefônicas e digitais, indústrias) limitam-se ao papel de novos “vassalos”. A renda, assim como no feudalismo, passou a substituir o lucro, motor do capitalismo.

 

O autor alega que, nos últimos séculos o mundo conviveu com muitas inovações tecnológicas, mas todas tendo o capital como principal meio de produção. O surgimento das big techs e seus algoritmos, que vivem em todos os nossos aparelhos digitais, determinam o comportamento e a tomada de decisões, afetando a estrutura do modo de produção capitalista.

 

Nessa nova lógica, surge um novo formato de capital: a infraestrutura digital (nuvem, redes, algoritmos). A força econômica e comercial dessas companhias está no domínio do novo território virtual, criando uma forte dependência e cobrando acesso e “aluguel” dos seus servos e vassalos, gerando uma acumulação de fortunas com tamanho e velocidade jamais vistas em toda a histórica da humanidade. Essas empresas não operam com objetivos tipicamente mercadológicos. Os usuários não são clientes no sentido clássico, mas servos que entregam dados sem ser remunerados diretamente por isso e precisam das plataformas para trabalhar, acessar informações e até os serviços essenciais. Uma espécie de “feudalismo digital”.

 

O choque da pandemia, entre 2020 e 2022, ajudou a turbinar o crescimento das big techs, aumentando a dependência e gerando fabulosos resultados quando o restante do mundo sofria perdas expressivas.

 

Mesmo quem não concorda plenamente com a nova teoria econômica, reconhece que as mega-empresas assumiram um poder maior do que o exercido pela aristocracia e pela igreja católica na idade média, como se fosse uma verdadeira “repaginação do feudalismo”.

 

Empresas como Google, Amazon, Meta, Microsoft, Apple, Oracle, OpenAI, Nvidia adquiram dimensão nunca vista no capitalismo, chegando a valores de mercado estratosféricos, acima de um trilhão de dólares e capacida de de influenciar em hábitos de consumo, comportamento social, produção industrial e rumos do comércio varejista. Até mesmo as grandes corporações industriais e comerciais dependem das plataformas digitais em suas cadeias de suprimentos e para alcançar seus clientes.

 

A concentração de poder e riqueza é tão grande e inédita na histórica econômica que agora os líderes dessas empresas avançam para obter concentração e domínio no mundo político e na geopolítica mundial, ajudando a eleger ou tirar líderes, até mesmo em grandes economias democráticas ou enfrentando países que ensaiam estabelecer algum tipo de regulação sobre suas atividades.

 

O caso mais ilustrativo desse movimento é a ostensiva participação das big techs na eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos e o protagonismo dos bilionários da tecnologia Elon Musk e Peter Thiel, dois icônicos representantes das novas companhias digitais, que ocupam postos importantes no atual governo do republicano. A tal ponto que Elon Musk, dono da rede digital X, ser visto por muitos analistas políticos como o verdadeiro chefe de estado da nova administração americana.

 

Assim como muitos historiadores e analistas macroeconômicos, não compartilho da visão de Yanis Varoufakis, das premissas e estrutura do pensamento econômico expostas no livro. Vejo uma leitura com argumentação teórica rasa e comparações muito simplistas do estágio atual do capitalismo e do feudalismo europeu.

 

Mesmo assim, há de se reconhecer que os arquitetos do tecnofeudalismo contribuem de forma significa para jogar luz no debate do poderio econômico, social e político que as gigantes digitais assumiram na última década. Poder tão imenso que somente poderá ser contido ou moderado por uma consistente e inteligente regulação institucional em cada país e em nível global.  

 

*Vivaldo Lopes é economista.

 

 

 *Os artigos são de responsabilidade seus autores e não representam a opinião do Mídia Hoje.

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