Se eu não tivesse essa distração de escrever todos os dias, inclusive nos feriados, o que seria de mim?
Só nos reunimos nos almoços dos sábados. Nos outros dias, meus filhos, netos e bisnetos sempre encontram um lugar para estarem juntos.
Eu não saio mais de casa — e não vou resmungar por isso.
Estou sempre em companhia de enfermeira e cuidadora.
Por uma série de problemas próprios da idade, prefiro passar assim os meus dias.
Lamento não possuir talento literário para produzir melhores textos.
Me consola acreditar que o importante é registrar os fatos dessa longa jornada.
Deixarei como legado, não uma obra literária que sirva de exemplo, mas os sinais do meu tempo — e da minha solidão.
Não sei se existe solidão produtiva, mas é o que penso neste momento.
Como seria a minha vida neste crepúsculo?
Do jeito que estou, controlo as minhas horas nesta reta final, que será percorrida por todos nós.
Já passei da fase da pressa. Na minha idade, vivo a vida sem correr.
Sexta-Feira Santa à tardinha: no silêncio do escritório, abraço as teclas do computador. Meu anjo da guarda, deitado na cama atrás da poltrona, deixa o ambiente quase sagrado.
Avanço velozmente, procurando o caminho para concluir este texto.
Escrevi essa frase sem pensar.
Já passei da fase da pressa. Na minha idade, vivo a vida sem correr.
Tudo que era para ter acontecido comigo, já aconteceu. Não vejo mais nada de grandioso pela frente.
Avaliar o que passou é tarefa difícil, mas tenho a impressão de que eu me sai bem.
Revisitar o passado é sempre uma aventura — e muitas coisas ficaram soterradas nos escombros da história.
Faria apenas pequenos ajustes nessa longa caminhada.
Se eu soubesse, talvez não enfrentasse tantos desafios... Mas, de um modo geral, tudo deu certo.
Até a minha solidão eu enfrento, sem me sentir abandonado.
O sol desapareceu. Encerrando mais um dia, sigo sem saber a razão da minha interrogação no título desta crônica.
*Gabriel Novis Neves
18-04-2025
https://bar-do-bugre.blogspot.com/
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