Primeiro convidado a ser entrevistado pelo Jornal Nacional, nesta segunda-feira (22), na atual eleição presidencial, Jair Bolsonaro (PL) tem um passado de desavenças com a Rede Globo. Relembre as vezes em que o atual presidente atacou a emissora e seus programas nos últimos ano.
Em 2017, antes mesmo de se tornar presidente, Jair Bolsonaro afirmou em seu perfil do Facebook que iria reduzir a verba publicitária da Rede Globo. O então deputado federal, que estava na corrida eleitoral para a presidência, disse que iria “fazer justiça”.
No final de 2020, o Grupo Globo foi proibido de pagar “bônus de volume” às agências de publicidade. O “BV” é um valor pago a mais como premiação para que agências direcionem anúncios de seus clientes para o veículo. Esse valor é desconhecido e, no caso de clientes governamentais, é até protegido por sigilo.
A prática que esteve no centro de escândalos como o Mensalão, também pode ser feita na forma de adiantamento: o veículo concede à agência o valor anual da bonificação adiantado, amarrando a agência ao veículo, criando na prática uma relação escusa de dependência que prejudica principalmente os clientes das agências, em muitos casos o próprio governo federal.
A Globo conseguiu, posteriormente, reverter a decisão. O processo está parado no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), órgão que instaurou o processo administrativo contra a Globo pela prática de BV.
Bate-boca com Renata Vasconcellos
Na última vez que o presidente esteve frente a frente com William Bonner e Renata Vasconcellos, em 2018, Bolsonaro ainda era candidato. O então deputado federal esteve nos estúdios do Jornal Nacional em agosto de 2018 e foi entrevistado or 27 minutos.
Durante a sabatina, Bolsonaro chegou a questionar o salário da jornalista. O então candidato foi perguntado sobre o que faria para reduzir a desigualdade salarial entre homens e mulheres no Brasil.
“Eu estou vendo aqui uma senhora e um senhor, eu não sei ao certo, mas com toda certeza há uma diferença salarial aqui, parece que é muito maior para ele do que para a senhora. São cargos semelhantes, semelhantes, são iguais…”, afirmou Bolsonaro.
Neste momento, Renata interrompeu o presidente e rebateu a afirmação. “O meu salário não diz respeito a ninguém”, pontuou a jornalista. “Posso garantir ao senhor, que como mulher, não aceitaria receber salário menor que um homem”, concluiu.
Ameaça à renovação da concessão
Em 2019, quando já ocupava o posto de presidente, Bolsonaro xingou a TV Globo após o “Jornal Nacional” exibir uma reportagem sobre as investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), ocorrido em março de 2018, e ainda sem resolução.
Segundo o telejornal, o porteiro do condomínio onde morava Bolsonaro à época disse em depoimento que alguém com a voz “do seu Jair” autorizou a entrada de um dos suspeitos da morte da vereadora no dia do crime.
“Por que, TV Globo, revista Época, essa patifaria por parte de vocês? Essa coisa que não dá pra definir. Deixe eu governar o Brasil! Vocês perderam. Vocês vão renovar a concessão em 2022. Não vou persegui-los. Mas o processo vai estar limpo. Se não estiver limpo, legal, não tem renovação da concessão de vocês, e de TV nenhuma”, afirmou Bolsonaro na época.
Em fevereiro deste ano, Bolsonaro voltou a ameaçar a emissora. Segundo o presidente, a emissora carioca poderá "enfrentar dificuldades" para obter a renovação da outorga de serviços de radiodifusão, que vence em 5 de outubro, quando completa o prazo de quinze anos.
“A renovação da concessão da Globo é logo após o primeiro turno das eleições deste ano. E, da minha parte, para todo mundo, você tem que estar em dia. Não vamos perseguir ninguém, nós apenas faremos cumprir a legislação para essas renovações de concessões. Temos informações de que eles vão ter dificuldades”, disse o presidente em entrevista ao ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PROS), na Rádio Tupi.
Emissora inimiga
Em um áudio vazado ainda em 2019, Bolsonaro afirmou que enxerga a Globo como uma “inimiga” que o “ferrou” em diferentes momentos, “antes, durante e após a campanha eleitoral”. E considerava que os seus ministros precisam “ter essa visão”. A gravação mostrava uma conversa com Gustavo Bebianno, então ministro da Secretaria-Geral de governo, onde o presidente exigia que ele cancelasse uma reunião agendada com Paulo Tonet Camargo, vice-presidente de relações institucionais do Grupo Globo.
“Gustavo, o que eu acho desse cara da Globo dentro do Palácio do Planalto? Eu não quero ele aí dentro. Qual a mensagem que vai dar para as outras emissoras? Que nós estamos se aproximando da Globo. Então não dá para ter esse tipo de relacionamento. Agora… Inimigo passivo, sim. Mas trazer o inimigo para dentro de casa é outra história. Pô, cê tem que ter essa visão, pelo amor de Deus, cara. Fica complicado a gente ter um relacionamento legal dessa forma porque cê tá trazendo o maior cara que me ferrou – antes, durante, agora e após a campanha – para dentro de casa. Me desculpa. Como presidente da República: cancela, não quero esse cara aí dentro, ponto final. Um abraço aí.”
A Globo reagiu à divulgação da mensagem de Bolsonaro dizendo que “considera que não tem nem cultiva inimigos” e que são “rotineiras” as visitas de diretores da empresa “a autoridades de diferentes poderes”.
Briga na transmissão do futebol
Em 2020, o Flamengo e Jair Bolsonaro balançaram o o quase hegemônico monopólio da TV Globo na compra e exibição dos direitos de transmissão. A equipe rubro-negra articulou a assinatura de Jair Bolsonaro para a Media Provisória (MP) 984, editada em 18 de junho, que passou aos mandantes a prerrogativa de venda de seus jogos de futebol. Antes, para se transmitir uma partida, uma emissora precisava ter contrato com as duas agremiações.
De cara, a medida provisória criou uma batalha jurídica entre Flamengo e Globo nos jogos finais do Estadual do Rio, com liminares concedidas e derrubadas, transmissões produzidas de última hora para streaming e diversas discussões comerciais. A MP tem caráter de lei, mas por ser justamente uma medida provisória, sua validade é perecível, de 60 dias, prorrogáveis por mais 60.
Para se transformar em lei, a MP teria de ter sido votada pela Câmara e Senado até o dia 18 de outubro. O texto chegou a receber 91 propostas de emenda em junho, mas sem acordo entre as lideranças partidárias e com a oposição explícita do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ‘caducou’ sem nem chegar a ganhar um relator.
Além do Governo Federal, a Medida Provisória 984 contava com o apoio de 12 dos 20 clubes da Série A do Brasileirão. Na Série B, das 20 equipes, apenas a Ponte Preta era contrária.
Para o bloco a favor, a MP era vista como uma oportunidade de aumentar o lucro com a venda dos direitos de transmissão, além de impedir o ‘apagão’ de alguns jogos em que nenhum veículo possui acordo com as duas equipes.
Propaganda de partidos
Jair Bolsonaro começou o ano de 2022 sancionando o retorno da propaganda de partidos, extinta em 2017. Desta vez, sem compensação financeira aos canais. Antes, o espaço ocupado pelas legendas na televisão – não confundir com o horário eleitoral gratuito em ano de ida às urnas – era compensado com dedução em impostos federais.
Agora, sem esse benefício fiscal, as emissoras serão obrigadas a ceder minutos de sua programação no horário nobre, entre 19h30 e 22h30, sem receber nada em contrapartida. Para exibir a propaganda de cada partido (duração de 5 a 20 minutos por semestre, a depender do número de deputados da legenda), os canais vão perder uma fração do espaço de anunciantes no intervalo.
Menos comerciais no ar significa receita menor. Arqui-inimiga de Bolsonaro, a Globo será a maior prejudicada. De acordo com o Terra, a cada minuto cedido, deixará de faturar cerca de R$ 1 milhão.
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