O governador Mauro Mendes (DEM) e o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB), nunca foram amigos. Emanuel chegou até a coordenar uma das campanhas de Mendes, mas o fato é que nunca fizeram parte - na intimidade - do mesmo grupo político. A relação que já não era boa se deteriorou de vez no ano passado, quando Emanuel Pinheiro anunciou apoio à candidatura de Wellington Fagundes (PR) ao governo do Estado. O MDB do prefeito estava com Mauro Mendes.
Depois da eleição de Mendes, a briga escancarou. Recados duros, um chamando o outro de "mentiroso", ameças de não deixar obras do VLT serem realizadas sem a participação da prefeitura e disputas politicas margearam a relação dos dois nos últimos tempos. Agora, porém, uma situação tem colocado Mauro e Emanuel em clima de beligerância total.
A dívida que o Estado tem com repasses à saúde da Capital é, aparentemente, a causa.
Difícil dizer quem deflagrou o último tiroteio, já que a pendenga na saúde remonta há anos. Os útimos lances estão ligados à encampação do Hospital Santa Casa, em Cuiabá. Atolado em dívidas e devendo meses de salários ao funcionários, o centenário hospital foi à bancarrota. Em um empurra-empurra de quem seria o responsável em encontrar uma saída para o hospital, o Estado acabou assumindo a gestão da unidade. Com a nova gestão, a prefeitura foi praticamente alijada da Santa Casa.
De outro lado, Emanuel Pinheiro centrou esforços no novo Pronto-Socorro e Hospital Municipal. Uma obra fabulosa que já foi quase toda entregue e que contou com os esforços de muitos para ser viabilizada. Mauro Mendes teria ficado chateado com o fato de governo estadual ter ficado à margem da obra, com o prefeito não reconhecendo o papel do Estado em sua realização. Costuma lembrar que além de iniciar a obra, o governo ainda entregou à capital o hospital São Benedito.
Nessa queda de braço, Emanuel Pinheiro anunciou semana passada que a prefeitura estará ingressando na Justiça para cobrar os repasses atrasados à saúde de Cuiabá. A dívida total seria de R$ 150 milhões, sendo cerca de R$ 68 milhões de repasses diretos e R$ 82 seriam recursos de emenda parlamentar coletiva destinada pela bancada federal à compra dos equipamentos do Novo Pronto-Socorro.
A prefeitura avisou que já notificou a Casa Civil para que o Estado repasse em 72 horas o valor devido à saúde da capital. O prazo expirou na semana passada. “Eu não vou abrir mão de nenhum centavo desse recurso porque esse recurso pertence a Cuiabá e a população cuiabana”, garantiu Emanuel. A ação de cobrança já estaria pronta pra ser protocolada na Justiça.
A resposta do governador veio no mesmo tom. “O Governo pode mostrar muito mais do que falar. A gente tem que parar com essas conversas desencontradas. Tem dívidas do Governo de Mato Grosso com as prefeituras desde 2016, quando eu era prefeito. Agora, na nossa administração nós estamos pagando desde janeiro 100% em dia todos os 141 municípios, apesar da crise. A saúde tem sido prioridade e é assim que vamos continuar administrando”, declarou o governador, no último sábado.
A Secretaria de Saúde do Estado (SES-MT) informou, através de nota, que o órgão devia em 31 de dezembro de 2018 o montante de R$ 63,5 milhões à prefeitura de Cuiabá, referente aos anos de 2016, 2017 e 2018. Assegura, porém, que a atual gestão da SES, além de estar rigorosamente em dia com os repasses municipais de 2019 (só este ano enviou a Cuiabá R$ 75,7 milhões), já sanou R$ 23,7 milhões relativos à dívida acumulada pela gestão anterior, de Pedro Taques.
Como se percebe, os números não batem. O Estado reconhece uma dívida muito menor que a cobrada pela prefeitura de Cuiabá. Além disso, lembra que a dívida é da administração Pedro Taques. "O prefeito (Emanuel) fala muito, trabalha pouco e mente bastante", cutuca o governador. Recentemente, Mauro disse para Emanuel ir cobrar Pedro Taques. "A dívida é do Estado. Não foi contraída no CPF de governador nenhum", rebate o prefeito. Ele diz não querer ser "amiguinho" do governador. "Vou cobrar por Cuiabá, não abro mão", enfatiza.
Analistas avaliam que o verdadeiro pano de fundo da briga é a eleição do ano que vem, para prefeito. Emanuel Pinheiro admitiu que vai ser candidato à reeleição e que já teria o apoio de 10 partidos. Até o apoio do DEM, de Mauro Mendes, não estaria descartado, segundo o prefeito. Emanuel aposta no bom relacionamento que possui com os irmãos Campos (Jaime e Júlio) e com o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Eduardo Botelho, para costurar o apoio do partido à sua reeleição. Mauro Mendes, declaradamente, é contra este apoio e teria escalado o atual presidente do DEM, ex-deputado federal Fábio Garcia, para fustigar Emanuel Pinheiro.
O candidato dos sonhos de Mendes a prefeito de Cuiabá, segundo esses mesmos analistas, seria o atual secretário estadual de Saúde, Gilberto Figueiredo. Homem de confiança do governador, Figueiredo foi secretário de Educação de Cuiabá no período em que Mauro Mendes foi prefeito. Depois, com o apoio de Mendes, se elegeu vereador da Capital. Com a vitória para o governo de Mauro Mendes, coordenou a equipe de transição, renunciou cargo de vereador e assumiu a poderosa Secretaria de Saúde do Estado. Não por acaso, Figueiredo teria liderado o processo de gestão da Santa Casa. Se Emanuel não conseguir o apoio do DEM e o confronto se confirmar, teremos duas candidaturas cujo mote principal de campanha já está definido: quem fez mais pela saúde da capital.
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