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opinião Domingo, 27 de Dezembro de 2020, 09:43 - A | A

Domingo, 27 de Dezembro de 2020, 09h:43 - A | A

OPINIÃO

Sobre os nomes de Deus

*Clóvis Figueiredo Cardoso

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No dia de meu aniversário, ano passado, minha irmã Ana Brígida presenteou-me com o 1º volume da obra escrita por Maimônides, "O Guia dos Perplexos".

Nessa obra, o autor apresenta as idéias esotéricas contidas na Bíblia, especialmente a de não aplicar atributos a Deus. Maimônides, baseado em fontes judaicas, dialoga nesta obra, com partes das filosofias grega e árabe-mulçumana, além de se referir a um grande número de teorias, doutrinas e opiniões das mais variadas procedências. Busca explicar que a possível relação entre o texto bíblico e a tradição oral do Talmude por um lado, e a filosofia abstrata, por outro, possibilitaria o acesso da razão aos segredos contidos na Bíblia.

Maimônides escreveu esse livro, (pasmem!!!) no Século XII, quando viveu, e sua importância para o pensamento judaico pode ser comparada à de São Tomás de Aquino – que costumava chamá-lo de “Moisés, o Egípcio” – para a filosofia cristã católica.

Nasceu em ,1135, em Córdoba, Espanha e viveu boa parte da vida no Egito, morrendo em 1204. É considerado por muitos como o maior filósofo judeu de todos os tempos.

Ousei transcrever o Capítulo 61 do Livro para demonstrar um pouquinho da perplexidade que nos envolve a leitura dessa obra.
SOBRE OS NOMES DE DEUS

Todos os nomes de Deus encontrados nas Escrituras derivam das Suas ações - isto não deve ser esquecido - exceto um, e este é: . “Yôd He Váv Hê" . Este nome é aplicado exclusivamente a Deus e por isso é chamado de Shém Hameforásh, cujo sentido aponta para o significa­do preciso da essência de Deus, bendito seja, sem polivalência. De fato, Seus demais nomes gloriosos são polivalentes e derivam das Suas ações, assim como ocorre conosco, conforrne explicamos. Inclusive o nome aplicado em substituição ao "Yôd Hê Váv Hê" também deriva de adnút (senhorio, autoridade): "Falou o homem, senhor (adonê) da terra" (Gênesis 42: 30). A diferença entre pronunciar “adoni” (meu senhor), com chirík sob [a letra hebraica] Nun, e "Adonal', com camáts sob o Nun, é a mesma que entre “sarí” - cujo significado é hassár shelí (meu príncipe) - e "Sarai, esposa de Abrão (Gênesis 12: 17), que denota uma condição majestática e distinta dos demais. Também se diz de um anjo: "Adonai (Meu senhor)... não passes" (Gê­nesis 18: 3). Entretanto, eu lhe expliquei sobre utilizar particularmente o nome Adonai como substituto, por este ser o mais especial dos nomes conhecidos de Deus; seus demais nomes - como Daián (Juiz), Tsadik (Justo), Chanun (Misericordioso), Rachum (Clemente) e Elohim (Deus) - são todos nomes genéricos e derivados. Contudo, quanto ao "Nome", cujas letras são "Yôd Hê Váv He”, sua etimologia é desconhecida e não se aplica a nada além Dele. Não há dúvida de que este nome glorioso - que não é pronunciado, como você sabe, a não ser no Micdásh (Templo Sagrado) e tão somente pelos "sacerdotes santificados de Deus” na Bircát Hacohanim (Bênção Sacerdotal) e pelo Cohên Hagadol (Sumo Sacerdote) no Iom Hatsóm (Dia do Jejum) - apon­ta para algo que não é compartilhado entre Ele e suas criaturas. É pos­sível que indique conforme a língua [hebraica] - da qual pouco co­nhecemos hoje em dia - e a sua pronúncia, a idéia de existência necessária. Por fim a grandiosidade deste nome e o cuidado para não pronunciá-lo decorrem do faro de este expressar a essência de Deus, de modo que nenhuma das criaturas compartilha do seu significado, con­forme afirmaram os nossos Sábios (de abençoada memória) a respeito: "Meu Nome é exclusivo a Mim".

Assim, todos os demais nomes apontam para atributos - não para a essência, mas apenas para uma entidade dotada de atributos - pois são nomes derivados; por isso, induzem a pensar na pluralidade [de Deus], vale dizer: levam a pensar na existência de atributos e que há uma essência, com atributos a ela acrescidos. Este é o significado de todo nome derivado: ele aponta para uma idéia e um ser tácito, ao qual esta idéia está atrelada. Como foi demonstrado que Deus não é um ser ao qual se associam idéias, sabemos que esses nomes derivados relacionam-­se à Sua atividade ou apontam diretamente para a Sua perfeição. É por este motivo que Rabi Chanina se enervava com a expressão "o Grande, Poderoso e Temível”, as duas razões mencionadas anteriormente: que estes levam a pensar em atributos essenciais, ou seja, que seriam perfeições existentes em Deus. À medida que estes nomes, derivados das ações de Deus, multiplicaram-se, induziram alguns a imaginar que Ele pos­sui tantos atributos quanto o número de ações derivadas destes. Por isso, foi prometida aos seres humanos a concretização daquilo que lhes removerá esta dúvida - e foi dito: "Naquele dia YHVH será Um, e o Seu nome, Um" (Zacarias 14:9), o mesmo que dizer: assim como Ele é Um, do mesmo modo será chamado, então, por um único nome que apontará somente para a Sua essência, e não será [ um nome] derivado. Nos Pirkê Rabi Eliezer (Capítulos de Rabi Eliezer, capítulo 3) foi dito: "An­tes de o Universo ter sido criado havia somente Hacadósh Baruch Hu (o Santíssimo, Bendito Seja) e o Seu nome". Veja como ele deixou claro que todos aqueles nomes derivados surgiram após o surgimento do universo; e isto é verdade, pois todos estes nomes surgiram em de­corrência das Suas ações existentes no universo. De fato, quando você examinar a Sua essência, separada de toda ação, não haverá Nele absolutamente nenhum nome derivado, mas apenas um nome em particular que indica a Sua essência. Não existe entre nós outro "nome" que não seja derivado, exceto este, qual seja: "Yôd Hê Váv Hê", que é o Shém Hameforásh absoluto - e nem pense em algo dife­rente disso.

E que não alcance o seu pensamento a loucura dos escribas de cmeiót (amuletos, talismãs), nem aquilo que possa ouvir deles ou que seja encontrado em seus livros excêntricos, sobre os nomes que elaboraram, os quais a nada levam absolutamente, e que chamam de "shemót" (no­mes); e acreditam que estes necessitam de "kedushá e tahará" (santifi­cação e purificação) e que fazem milagres. Não convém que estas coisas sejam sequer ouvidas por uma pessoa íntegra, quanto mais acreditar nelas.

Nada pode ser chamado de Shém Hameforásh a não ser este Tetra­grama ("Nome de Quatro Letras") escrito, mas não pronunciado, por meio de suas letras. E sobre o que está dito em Sifrê, "Assim aben­çoarei aos filhos de Israel" (Números 6:23), seu significado é: "Assim" nesta língua [hebraico] e "Assim" - por meio do Shém Hameforásh; e lá está escrito: "No Micdásh (Templo Sagrado) conforme está escrito e na Nação por seus substitutos"; e no Talmud é dito: "'Assim” - por meio do Shém Hameforásh. Você pergunta: 'Por meio do Shém Hameforásh ou por um nome que o substitua?' e o Talmud dirá: 'E porão o Meu nome' (Números 6:27) - 'O Meu nome, que Me é exclusivo'''.

Eis que já lhe foi explicado que o Shém Hameforásh é este Tetragra­ma e que somente ele leva à essência de Deus, sem associação a outra coisa, e sobre o qual nossos Sábios afirmaram: "Que Me é exclusivo". Apresentar-lhe-ei a razão que induziu as pessoas a acreditarem no con­teúdo dos "shemót”, bem como explicarei o cerne desta questão e revelarei os seus segredos, de modo que não lhe reste dúvida, a menos que você queira se enganar. Veremos isto no próximo capítulo.

 

*Clóvis Figueiredo Cardoso é advogado 

 

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