Considero aqueles títulos reconhecidos pela academia como seu cartão de admissão.
Sem eles não se consegue ingressar nesse seleto meio de celebridades, comandados e reverenciados por representantes do poder constituído de um país, às vezes sem esses pré-requisitos.
Para ser professor universitário hoje tem que possuir pelo menos o mestrado e doutorado.
E lá chegando, partir imediatamente para o pós-doutorado, quando é aproveitado geralmente longe dos alunos de graduação, girando a enorme roda de preparar profissionais para cargos públicos bem remunerados.
A grande expectativa de alguém que ingressa na universidade é ser preparado para contribuir ao desenvolvimento econômico, social, cultural e tecnológico da sua nação e do mundo.
Esses cursos formais, seguidos das especializações, exames para a OAB, demonstram, infelizmente, a falência do ensino fundamental, médio e superior.
E isso vem de longe, quando foi criado, após os quatro anos do antigo primário, o exame de admissão ao ginásio.
Depois do segundo grau muitos fazem por deficiência do ensino recebido, o cursinho preparatório para o vestibular.
Ao entrarem na universidade, quando não a abandonam, já sabem da peregrinação que têm que cumprir até chegar ao mercado de trabalho e lutar para não ser expulso.
Sempre fui devoto do ensino de qualidade, produzindo os saberes que tanto necessitamos, embora sabendo existir e respeitando saberes fora dela.
Implantei na FUFMT, e outras quatro universidades públicas também fizeram o mesmo, um projeto piloto do MEC (Ministério da Educação e Cultura) transformado em programa, comandado por Lynaldo Cavalcante de Albuquerque, na gestão do Ministro Ney Braga, o PICD (Programa Institucional de Capacitação Docente).
Temos um corpo docente altamente qualificado, e hoje, eu e tantos outros não teríamos condições de implantar a nossa universidade, onde o mais qualificado, e eram poucos, tinham a especialização.
Hoje para ser reitor de universidade pública tem que possuir pelo menos doutorado, e nem por isso a qualidade do ensino superior melhorou.
Não tenho certeza, mas, a professora Maria de Lourdes Delamônica Freire, parece que tinha terminado o mestrado em antropologia, quando veio para cá.
Me perdoem, mas não me lembro de mais ninguém.
A Residência Médica, com a duração de três anos, é uma especialização médica que se faz após a conclusão do curso de graduação, sem a qual o médico não é aceito para ser contratado nem pelos planos de saúde.
Até 1960, os médicos concluíam o curso em seis anos e estavam habilitados para o exercício da profissão - eram os pioneiros.
Esses só tinham o curso superior e estavam em sala de aula, como os professores Antônio Cesário Neto e Benedito Figueiredo, que só possuíam o ensino médio e saberes da língua e literatura brasileira e lecionavam regularmente as suas disciplinas.
Na minha administração como reitor-fundador, aproveitei muitos cérebros que hoje jamais pertenceriam a uma universidade, a não ser como servidores na parte salarial mais baixa, portanto longe dela por problema de remuneração.
Trabalharam na assessoria da reitoria.
Irei citar alguns não possuidores de títulos universitários, mas de saberes, que deixaram seus nomes lembrados.
Wladimir Dias Pino, gráfico, programador visual, poeta concretista.
Autor da logomarca, escultura em frente ao teatro e entrada da universidade.
Responsável pelo material gráfico e publicações da universidade.
Também pela presença do escritor Guilherme Dick em sala de aula (não tinha curso superior).
Em vida recebeu o título de Doutor Honoris Causa da UFMT.
Pedro Paulo Lomba, criador do Museu Rondon, com a Oca e a Casa da Flauta, ao lado do Parque Aquático da UFMT.
Autor do Projeto Aripuanã, e redator do documento a universidade da selva.
Foi contratado como assessor da reitoria, dizia-se especialista em teoria do conhecimento.
O mateiro Raul José, criador do Zoológico no campus universitário, anos depois biólogo e aposentado como agente didático, sendo antes colaborador de ensino e laboratorista.
O jornalista Humberto Espíndola, artista plástico do Museu de Arte e Cultura Popular (MACP).
O fundador do Cine Clube Coxiponês, Gabriel Papazian não tinha curso superior.
Os colaboradores de ensino como o historiador Rubens de Mendonça, sem curso superior, foram chamados para a universidade, como outros.
Assim nasceu a nossa universidade, formando a elite intelectual acadêmica e valorizando os saberes.
Esse é o nosso DNA.
*Gabriel Novis Neves
http://bar-do-bugre.blogspot.com
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