Em memorável obra escrita a várias mãos, Nevitt Sanford escreve, resumindo a situação psicoemocional de certos indivíduos, que ‘aquilo que a pessoa diz serem as suas próprias opiniões, atitudes e valores se confunde com aquilo com que ela é socialmente direcionada a concordar de forma sistemática’ (in The Authoritarian Personality, subscrita também pelos notáveis Theodor W. Adorno e Horkheimer).
O ambiente familiar e social, as crises internas e externas, paradoxos existenciais, desejos e pulsões etc., ajudam a formar o indivíduo. Não é à toa que os existencialistas (Sartre e outros) afirmam que qualquer pessoa primeiro existe, depois torna-se, ou seja, é no caminhar da existência que se agrupa a essência pessoal.
Ao ver triunfar tantas inverdades (hoje temos até as ‘Fake News’) e injustiças, num mundo carregado de líderes megalomaníacos, fanáticos e autoritários, aguça em personalidades imaturas e irreflexivas (direcionadas a concordar sistematicamente com determinado padrão comportamental) um certo ‘alter ego’, projetando para si próprias, de forma implacável e resoluta, tal identidade.
Não se descuidando disso, o problema maior não está na imaturidade e não reflexão, mas no cinismo de alguns. Nestes, abalada a fronteira entre a agressividade contra elementos da realidade exterior e da realidade interior, e ‘enquanto não puder (em) se permitir ser agressivo (s) com aqueles que são realmente fortes, haverá um lembrete incômodo de que ele (s), na realidade, é (são) fraco (s). Ele (s) tenta (m) libertar-se desse pensamento projetando o desprezo sobre a humanidade, havendo, assim, alguma base para dizer que ele (s) odeia (m) os outros porque se odeia (m) ’ (idem).
Estes últimos evitam ser dissuadidos, convencidos, por novos valores sobre as circunstâncias da vida, pois a angústia gerada é forte para suportar. Enxergam como se olham no espelho, nada mais. Cada qual com rota de fuga, pergunta: por que ficar se reprimindo? Somente os de superego forte tendem à autocrítica, apesar do autoflagelo.
Este mundo deve ser vivido não com o fígado, mas com a alma, da mais elevada. É difícil suportar aos que são, como são, e não pretendem mudar por pura covardia; são os da paz cínica. Desses, corre-se concordes ou fingindo ignorância por vergonha alheia.
Deles, oposição só dos que não se calam, porque não temem a verdade, nas palavras do meu amigo e ex-vereador Luiz Mário na sua Ronda Policial (lembram?).
Mantemo-nos o fígado fora disso, a alma generosa suporta os desafios; e que desafios não é mesmo?!
É por aí...
*GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO tem formação em Filosofia e Direito, sendo autor da página Bedelho.Filosófico no Facebook e Instagram.
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