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Neste ano, os pilares da expansão da economia venezuelana são o incremento de cerca de 20% na produção petrolífera em 2022 na comparação com 2021 e os preços do produto.
A Venezuela será um dos países com maior crescimento econômico em 2022 na América Latina, e a expectativa é que registre uma das principais expansões do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços) também em 2023, segundo a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal).
Segundo a organização ligada às Nações Unidas, a economia venezuelana crescerá 12% neste ano e 5% no ano que vem. Para efeitos de comparação, a economia brasileira deverá crescer 2,6% neste ano e 1% em 2023, informou a Cepal. A Argentina, por sua vez, tem previsão de crescimento de 3,9% neste ano e de 1% no próximo ano.
A economia venezuelana perde a liderança neste ranking apenas para a da Guiana, que também fica na América do Sul, e que em 2022 terá um salto de 52% e em 2023 outro pulo de 30%. Nos dois casos, da Venezuela e da Guiana, o petróleo é o principal responsável pelos resultados, segundo analistas — a Guiana descobriu imensas reservas dessa matéria-prima recentemente.
Países vizinhos entre si e que fazem fronteira com o Brasil, a Venezuela possui uma das maiores reservas de petróleo do mundo e tradição neste ramo. Na Guiana, por sua vez, a história da perfuração de petróleo é recente e tem contribuído para o forte incremento de seu PIB há dois anos. Outra diferença é o tamanho da população dos dois países — a da Venezuela é de cerca de 28,5 milhões de habitantes e a da Guiana não chega a 1 milhão de habitantes (aproximadamente 800 mil habitantes).
Em entrevista à BBC News Brasil, o economista Ramón Pineda, da Divisão de Desenvolvimento Econômico da Cepal, com sede em Santiago, no Chile, disse que essa "é a primeira vez" que a economia venezuelana cresce desde 2013-2014.
"E é um crescimento de 12%. Em 2023, também estamos antecipando que vai ocorrer um crescimento da atividade econômica de 5% e com recuperação da produção petrolífera", diz Pineda.
Segundo ele, apesar da previsão de queda nos preços do petróleo, a expansão do ano que vem seria factível diante "da retirada ou suavização de algumas sanções (sanções econômicas)" contra a Venezuela e da maior atividade no setor de petróleo.
"Esse incremento permitiria compensar a queda nos preços do petróleo em 2023", disse.
Neste ano, os pilares da expansão de 12% da economia venezuelana são o incremento de cerca de 20% na produção petrolífera em 2022 na comparação com 2021 e os preços do produto.
"O aumento nos preços do petróleo gera uma forte quantidade de recursos tanto para a gestão do fisco como para financiar as importações venezuelanas. Importações no que se refere a insumos e também a bens finais. Isto contribuiu para diminuir as carências de combustíveis e de insumos que permitiram que a agroindústria e a indústria farmacêutica também tenham se fortalecido durante 2022", diz o economista da Cepal.
Com mais dinheiro, o Banco Central da Venezuela (BCV) e o governo do presidente Nicolás Maduro têm mais recursos para as importações necessárias para fazer a economia — e o cotidiano dos venezuelanos — funcionar.
"Por exemplo, no caso dos combustíveis, e especialmente da gasolina, também podem ser realizadas importações com os recursos provenientes da atividade petrolífera", disse Pineda.
Chevron
Na semana passada, o governo dos Estados Unidos autorizou a empresa Chevron a retomar, após três anos, as operações de produção e exportação de petróleo venezuelano.
O acordo seria de seis meses, com possibilidade de renovação, e envolveria a estatal venezuelana PDVSA, segundo especialistas que analisaram a negociação.
O anúncio do entendimento e do alívio das sanções americanas foi feito após a retomada do diálogo entre o governo Maduro e a oposição venezuelana, durante o qual os dois lados concordaram em criar um fundo, que seria gerido pelas Nações Unidas, para financiar programas de alimentação, saúde e educação na Venezuela.
Outro fato que favorece o "menor isolamento" da Venezuela é a retomada do diálogo do governo Maduro com a Colômbia, após a posse de Gustavo Petro, em agosto passado em Bogotá.
Mas, apesar destes entendimentos e do crescimento econômico deste ano, os indicadores sociais e o cotidiano dos venezuelanos seguem sendo um desafio.
'Não está bem'
O analista político e econômico venezuelano Luis Vicente León, da consultoria Datanálisis, assinala que os venezuelanos percebem a melhoria econômica no país quando comparam a situação atual com "o pior quadro mais recente" — a 'hipercrise' de 2018, quando havia amplo desabastecimento e longas filas.
"Mas ainda hoje muita gente está vivendo com falta de energia, de água e de capacidade de consumir", analisa Léon. E acrescenta: "Agora, o país não está bem porque perdemos 75% do PIB em sete anos e estamos longe da recuperação", diz.
De acordo com levantamento de sua consultoria, "somente 40% da população entendem que o país está bem ou muito bem".
Em entrevista a uma rádio local, o economista Asdrubal Oliveros, da consultoria Ecoanalítica, de Caracas, disse que o crescimento econômico existe e é impulsionado, principalmente, pelo setor privado.
Ele, porém, ressalvou: "Estávamos no nível 12 abaixo de zero e agora estamos no 8. O crescimento econômico é real, mas ainda não é percebido pela maioria dos venezuelanos".
Apagões
Na Venezuela, a falta de energia elétrica e de combustíveis está entre os principais desafios enfrentados pela população do país, segundo economistas locais.
A Associação Venezuelana de Energia Elétrica, Mecânica e Profissionais Afins (AVIEM) observou que nos últimos 20 anos, a "Venezuela era um país totalmente eletrificado (97% de cobertura) e tinha um sistema robusto que era exemplo na América Latina. Agora, vive às voltas com um sistema elétrico em colapso operacional, deteriorado, difícil de ser recuperado", segundo informação recente da emissora alemã DW.
O economista venezuelano Daniel Cardenas, professor de macroeconomia da Universidade Central da Venezuela (UCV) e da Universidade Metropolitana de Caracas, diz à BBC News Brasil que a produção de petróleo entre 2021 e 2022, passou de 300 mil barris diários para cerca de 700 mil barris por dia.
No entanto, esse número não é nada comparável à produção nos anos 1990, quando o país chegou a produzir mais de 3 milhões de barris diários.
Cardenas acredita que o desempenho da economia venezuelana poderia continuar melhorando, a partir do maior alívio nas sanções econômicas contra o país.
Mas, em sua visão, os "determinantes" do crescimento venezuelano ainda são "muito frágeis". Ele cita a média salarial dos venezuelanos que estaria entre US$ 120 e US$ 130 (R$ 630 e R$ 680).
"Não estamos falando de salário mínimo. Estamos falando de média salarial. E o salário mínimo aqui é em bolívares (a moeda nacional), e está em torno dos US$ 12 e muito longe dos cerca de US$ 300 a US$ 400 pagos em outros países da América Latina. Mas as empresas não pagam esses US$ 12 porque ninguém aceitaria trabalhar", disse.
Cardenas opina que o consumo nas casas dos venezuelanos ainda é muito baixo, apesar da "modesta recuperação" recente.
"Com a inflação ainda alta é difícil que o consumo suba", afirmou.
Cardenas calcula suas estimativas sobre a economia do país a partir de indicadores como o da arrecadação fiscal, a produção industrial e do setor comercial, já que outros dados oficiais não são divulgados periodicamente, ressalva.
Para ele, a economia venezuelana deverá crescer cerca de 9% neste ano de 2022 — longe dos 12% previstos pela Cepal.
"As taxas são altas e inesperadas, mas o crescimento surge depois da pandemia e das quarentenas", diz.
As estimativas do Banco Central da Venezuela (BCV) foram as mais otimistas até o momento. O BCV informou que a economia do país registraria expansão de 18% neste ano, sendo o maior da região.
Inflação
No início de 2022, a Venezuela deixou, oficialmente, o período de hiperinflação que marcou seus quatro anos seguidos, a partir de 2017 e chegando a superar quatro dígitos anuais.
Nesta semana, porém, o Observatório Venezuelano de Finanças (OVF) informou que a alta de preços de novembro foi de 21,9% e que o acumulado neste ano chega a quase 200% (195,7%).
A expectativa era que o país pudesse manter a inflação de um dígito mensal que chegou a ser registrada no início de 2022.
Medida em dólares, a alta de preços neste ano chega a 50%, segundo escreveu o economista Asdrubal Oliveros em suas redes sociais.
Os desafios venezuelanos ainda são "enormes", conclui Luis Vicente León.
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