Mato Grosso possui há anos o maior rebanho bovino do Brasil. Tem hoje quase 30 milhões de cabeças, que representam cerca de 14% do rebanho nacional. Ao contrário do que se pensa, a maioria dos responsáveis por este imenso rebanho são pequenos produtores, com uma média de 249 cabeças de gado, e boa parte deles se dedicam à produção de leite. Os grandes pecuaristas são os responsáveis pela engorda. Com eles, Mato Grosso passou a ocupar o título de maior exportador de carne do país.
Mas seja com grandes ou pequenos, os dados sobre o Valor Bruto da Produção (VBP) mostram que a propriedade rural brasileira movimenta R$ 564,3 bilhões anualmente, sendo que a agricutura é responsável sozinha por R$ 371 bilhões, com a pecuária respondendo por R$ 191 bilhões. Mato Grosso ocupa a primeira posição neste saldo do agronegócio, pelo VBP, com R$ 82,8 bilhões neste ano. São Paulo está em segundo lugar, com R$ 70,2 bilhões. Paraná (R$ 69,9 bilhões), Minas Gerais (R$ 55,2 bilhões) e Rio Grande do Sul (R$ 53,4 bilhões).
São bilhões demais. Mas diferente da soja, do milho e do algodão, a pecuária reserva características muito peculiares. Isso por que, como já citado, é majoritariamente formada por pequenos produtores, que mesmo enfrentando situações adversas transformaram a pecuária mato-grossense em referência de produção, erradicando a febre aftosa (as campanhas de vacinação sempre são superiores a 99% de cobertura), investindo em confinamentos e trabalhando a produção alternada, que permite o plantio de árvores e a criação de gado ou a produção de grãos alternada com pasto.
A lógica desse sistema é baixar custo, utilizar menos recursos naturais e produzir mais. Só em confinamento, por exemplo, estima-se que a tecnificação aliada à melhoria da logística e facilidade na compra de insumos, pode levar o Brasil a ter em 2031, ou seja, daqui a 12 anos, 3,36 milhões de cabeças abatidas oriundas de sistemas intensivos (confinamento), passando a representar 70% do total de animais abatidos. Mato Grosso hoje já confina cerca de 700 mil cabeças.
E mesmo diante de tantos números, os pecuaristas fazem questão de ressaltar o compromisso que têm com o meio ambiente. Lembram que o sistema hoje de criação, ao contrário do que se diz por ai, emite zero de carbono na atmosfera.
"(...) Possuímos dados da Embrapa que em pastagens bem manejadas ou em integrações lavoura-pastagem-floresta a emissão de carbono pode chegar a zero para a atmosfera", assegura Marco Tulio Soares, presidente da Associação Mato-grossense dos Criadores (Acrimat).
Além do baixo impacto poluidor, Marco Túlio lembra que a pecuária mato-grossense está cada vez mais se aperfeiçoando. "(de um ano para outro) transferiu-se aproximadamente dois milhões de hectares de pastagens para a produção de grãos. Esta transferência de áreas com pastagens permitiu reduzir o desmatamento em mais de 2 milhões de hectares. Ou seja, a pecuária está produzindo mais em menos!", ressalta o dirigente.
Proprietário do Celeiro Carnes Especiais, que iniciou suas atividades oficialmente como Estância Celeiro em meados de 2007, Marco Túlio é presidente da Acrimat desde 2016 e encerra seu mandato no próximo dia 18 de outubro, quando ocorrerá uma nova eleição.
Nessa entrevista ele nega que o agronegócio tenha ficado em "silêncio" diante da avalanche de críticas que recebeu por causa das queimadas na Amazônia, desmistifica a questão dos agrotóxicos, diz que a relação com o governo do Estado começou difícil, mas melhorou bastante, e traça o futuro da pecuária em Mato Grosso. "O produtor não pode mais pensar em trabalhar como a família produzia há 100 anos. Ele deve estar aberto e se adaptar às novas modalidades de produção".
Acompanhe a entrevista:
Midia Hoje (MH): Presidente, como o sr. viu a crítica sobre o "silêncio mortal" das entidades ligadas ao agronegócio, em relação a crise de imagem mundial provocada pelas queimadas na Amazônia?
Marco Túlio: Não vi a crítica, mas não concordo que houve silêncio mortal, várias entidades se posicionaram, sim! A Acrimat se posicionou via artigo.
MH: Em recente artigo publicado, o Sr. questionou os ataques que colocam o agronegócio como principal vilão do meio ambiente... outras vozes não deveriam ter feito o mesmo, em escala proporcional ao tamanho das críticas?
Marco Túlio: Não podemos responder por outras entidades, mas a ministra da Agricultura, e outras lideranças do agro, tem se posicionado sim, a fim de esclarecer que o agronegócio é o principal interessado na manutenção e preservação do meio ambiente. A Associação Brasileira de Criadores (ABC) tem feito isso de forma muito responsável, e temos conseguido sensibilizar uma boa parcela da população. É óbvio que isso é um trabalho de formiguinha, mas já temos conseguido grande avanço, sendo chamado para discutir o assunto em sites, TV’s e rádios.
MH: Além das queimadas, questiona-se muito a questão dos agrotóxicos... como o Sr. vê isso?
Marco Túlio: Há muita desinformação sobre a utilização dos defensivos agrícolas, que são essenciais para a produção em grande escala. A liberação das novas moléculas que estavam paradas na burocracia brasileira irá dar maiores possibilidades ao agricultor em ter acesso ao que há de mais moderno e assim reduzir inclusive o numero de aplicações. Infelizmente em nosso país tropical e infestado de pragas, não conseguiríamos produzir sem o uso racional de defensivos! E é importante salientar que segundo os dados da FAO o Brasil ocupa o 44º lugar na utilização de defensivos http://www.
MH: Há também a versão de que há o desmatamento, em seguida coloca-se o boi e depois estende-se para o plantio de grãos... a marcha do desmatamento seria essa?
Marco Túlio: Segundo dados do IMEA (Instituto Mato-grossense de Estudos Aplicados), de 2008 a 2018 tivemos em Mato Grosso uma redução das áreas de pastagens de 25.710 milhões hectares para 23.760 milhões hectares. E mesmo transferindo aproximadamente dois milhões de hectares, o rebanho aumentou no período de 25.740 milhões de cabeças para 29.740 milhões. Com isto, transferiu-se aproximadamente dois milhões de hectares de pastagens para a produção de grãos, Esta transferência de áreas com pastagens permitiu reduzir o desmatamento em mais de 2 milhões de hectares. Ou seja, a pecuária está produzindo mais em menos!
MH: Sobre a questão de que os gases dos bovinos seria um dos principais vilões do efeito estufa, aquecimento global...
Marco Túlio: Também mais um dado que não se comprova: segundo dados da Agência de Proteção do Meio Ambiente dos Estados Unidos, a contribuição da pecuária na produção de gases de efeito estufa é bem menor do que se divulga por aí. A emissão de gases estufa pela atividade pecuária é responsável por apenas 2,9% da emissão de gases do efeito estufa daquele país, menos do que a agricultura (4,7%), e irrisória quando comparado com o que é emitido por atividades com Transporte, Geração de Energia Elétrica e Atividade Industrial. Até mesmo Comércio e residências geram mais metano do que a criação de animais. E veja bem: esses dados são da pecuária intensiva praticada nos EUA, que em nada se compara a nossas criações extensivas, já que possuímos dados da Embrapa que em pastagens bem manejadas ou em integrações lavoura-pastagem-floresta a emissão de carbono pode chegar a zero para a atmosfera.
MH: Os produtores temem um boicote maior à produção local, principalmente da Europa?
Marco Túlio: Não tememos boicotes, pois temos dados suficientes para contrapor quaisquer sanções por motivos que tenham como pano de fundo as questões ambientais.
MH: A Acrimat reclamou, recentemente, que falta comunicação do atual governo do Estado com o setor; o problema continua?
Marco Túlio: A relação da Acrimat com o novo governo começou muito ruim, mas melhorou bastante. O primeiro semestre foi bastante complicado, mas a partir do segundo semestre as relações já começaram a mostrar uma sensível melhora. É importante ver a nova postura de um governo que já chama o setor para conversar. É a atitude de um governo que quer trabalhar, colocar o carro no trilho. Agora que parou aquela pressão, o governo tem quem trabalhar e mostrar serviço. E também precisamos trabalhar sem interferência; acredito que de agora pra frente não teremos mais problema.
MH: Como avalia o Fethab 2, cobrança que deveria ter sido extinta no final do ano passado, mas acabou renovada e incorporada ao Fethab...
Marco Túlio: O Fethab 2, infelizmente, foi aprovado em 2015, e o atual governo, diante do quadro de dificuldade financeira, e enfrentando pressão de segmentos da sociedade organizada, como professores, teve que manter o imposto, até por que nenhum governo quer perder receita. Então, o atual governo apenas reeditou a medida que vinha sendo utilizada. É bom lembrar que a Acrimat lutou muito para que a alíquota não fosse aumentada, para que pelo menos se mantivessem os valores antigos. De um lado, o governo querendo aumentar, mas diante do posicionamento forte da Acrimat em defesa dos produtores, conseguimos pelo menos que ele mantivesse os valores antigos.
MH: Há um sentimento de que o agronegócio não paga impostos... alguns produtores são chamados de barões do campo. Como o sr. vê isso?
Marco Túlio: No caso da pecuária, essa afirmação não procede. A Acrimat representa mais de quatro mil associados, e desse universo 86% são de pequenos produtores, que tem no máximo 249 cabeças de gado. O foco da Acrimat é dar assistência a este produtor, o pequeno produtor. Não sabemos das dificuldades sazonais dos outros setores, como a agricultura, e por eles não podemos falar.
MH: Qual o futuro da pecuária em MT?
Marco Túlio: A Acrimat busca mostrar ao produtor o quão importante é se adaptar as novas formas de produzir, as novas exigências do mercado. O produtor não pode mais pensar em trabalhar como a família produzia há 100 anos. Ele deve estar aberto e se adaptar às novas modalidades de produção, aos novos métodos, sair da caneta e do papel para a era digital. Procuramos mostrar que o produtor deve ser proativo sempre, em todos os sentidos. E fazemos isso aprimorando técnicas de criação, que proporcionem melhor qualidade ao nosso produto; que nos permitem produzir mais com menos; sempre respeitando o meio ambiente, buscando desenvolver novas formas de produzir de maneira sustentável, respeitando também as questões trabalhistas. E a Acrimat faz isso - levar informação ao pequeno produtor -, através de programas como o Acrimat em Ação. Mas o mais importante é que a Acrimat tem uma missão: conscientizar o produtor que ele não produz um animal, ele produz carne, seu produto final se chama carne, e carne tem de ser de qualidade, e todo esse trabalho tem que ser intensificado, pois nos preocupamos com a diminuição do consumo de carne. É fato que o consumo de proteína animal, principalmente a carne bovina, está experimentando uma queda não só no Brasil, mas no mundo todo, e para que o produtor continue a ser relevante, assim como seu produto, ele precisa se adaptar.
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